quarta-feira, março 27, 1996

PAIS A CHORAR NO CASAMENTO

Um amigo meu casou-se há pouco tempo. Convidou-me para ir, eu fui. Casou-se pela igreja. Foi uma cerimónia bonita.
O que me irritou foram os pais dele.
Raio das pessoas! Não paravam de chorar!
O filho tá-se a casar, a noiva é uma boazona que só visto e eles tão ali parece que tão num velório. O que é que se passa?
Lembram-se quando nós éramos pequenos e os nossos pais ralhavam connosco? E nós começávamos a chorar? E depois eles diziam:
"Tá calado senão levas mesmo pra saberes porque é que choras!"
Digo-vos uma coisa, um dia que eu me case e os meus pais comecem a chorar durante a cerimónia, eu juro: páro tudo, vou ao pé deles e dou-lhes um enxerto. Pra eles saberem porque é que choram.

domingo, março 17, 1996

ASSOCIAÇÃO ENCERRADA

Pela primeira vez - e espero que seja a última - vou publicar uma notícia triste. Soube recentemente que a Associação Nacional dos Mutilados de Guerra vai fechar as portas. A notícia caiu quase como uma bomba e deixou muita gente perplexa. Até eu fiquei, vejam bem.
As razões do encerramento são várias e devem-se essencialmente à falta de verbas. Nas palavras do presidente da associação, Artur Garcia Resende da Silva e Sá (conhecido como o "Salta-Pocinhas") "O projecto já não tinha pernas para andar."
Espero que o governo tome medidas urgentes para que não aconteça o mesmo a outras associações. Refiro-me, por exemplo, a associações de pessoas mudas. Sei que se ouve falar pouco deles, mas eles têm um papel importantíssimo na nossa sociedade - são os melhores espectadores de ópera.

sexta-feira, março 15, 1996

DIA MUNDIAL DA DEFESA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR

Hoje é o dia mundial da defesa dos direitos do consumidor.
Ainda não dei por nada e já são uma da tarde.

quarta-feira, março 13, 1996

SER DIRECTO

Fazem-me confusão certas bandas que vão à televisão e tocam sem playback. É que além de tocarem mal, ainda põe lá o “directo” no canto do ecrã.
Para quê? Não é preciso nada disso.
Não seria melhor as bandas chegarem ao programa e, antes de começarem a tocar, dizerem:
“Pessoal, nós não prestamos pra nada.”
Isso sim, é ser directo.

RECIBOS VERDES

Fazem-me confusão os recibos verdes. Se se chamam recibos verdes porque razão é que as folhas são brancas? Se partirmos desta ordem de ideias, será que o saco azul é mesmo azul?

"PASSEI-ME!"

Tenho um amigo que se irrita muito facilmente. Qualquer coisinha, é logo. Às vezes é engraçado olhar para as pessoas quando estas estão irritadas. Eu gosto. Porque dizem cenas que... Do género, este meu amigo chega-se ao pé de mim uma vez e diz-me:

“Eh pá! Hoje de manhã quando ia pró trabalho, um gajo meteu-se à minha frente, quase que o ia atropelando. Passei-me logo!”

Há muita gente que diz isto: “Passei-me!” Como é que é isto possível? Ninguém se consegue passar? É impossível. Vejam bem, eu vou na rua, vejo uma pessoa e passo por essa pessoa. Essa pessoa passa por mim. Mas eu nunca passo por mim mesmo.

SOLIDARIEDADE

Deu na televisão, há uns tempos atrás, uma campanha da Fundação Portuguesa de Cardiologia, ou Associação não sei. Aquilo eram vários anúncios em que tínhamos uma série de pessoas, provavelmente com problemas cardíacos, que pediam conselhos a um médico que ia de passagem.
E o médico, sempre simpático, só dizia:
“Ponham-se a andar! Vão dar uma volta!”
Não sei porquê, mas pra mim, não é este tipo de coisas que ajuda a melhorar a imagem dos médicos. Só faltava ele dizer:
“Eh pá! Vão à merda! Desamparem-me a loja, foda-se!”
Queria ver se houvesse alguma daquelas linhas de apoio ao suicídio, apoio a pessoas suicidas melhor dizendo, que fizesse o mesmo. Isto também não faz sentido. Se eles querem suicidar-se, ao darem-lhes apoio, não estão a ajudá-los a suicidar-se? Nunca consegui perceber bem.
Mas, dizia eu, se essas linhas fizessem o mesmo, como é que seria?
As pessoas ligavam pra lá, todas deprimidas.
“Ai morreu-me o filho e o irmão e o cão e ninguém gosta de mim.”
E do outro lado.
“Ó amigo, vá-se matar. Não me chateie.”
Outra coisa, quase que me ia esquecendo disto. Essas linhas, há algumas que se chamam, ou são chamadas, linhas de apoio a vítimas de suicídio. Como é que é isso? Uma vítima de suicídio, o próprio nome o diz, está morta. Só se o apoio que eles dão for a nível do arranjo fúnebre. Só se for isso.
E depois queixam-se.
“As pessoas não nos ligam. Parece que têm medo de falar.”
Pudera! Talvez se não estivessem mortas...
Agora a sério.
Se me vêm dizer que não é bem assim, se vêm com aquela conversa do “o que nós fazemos é ajudar as pessoas com tendências suicidas a ver as coisas boas da vida.”
Isso não é ajudar. Isso pra mim chama-se ‘fazer inveja’. É a mesma coisa que chegarem-se ao pé de mim e dizer:
“Ai! Tou tão sozinho, ninguém quer saber de mim, ando a viver na rua.”
Era logo:
“Agora não posso falar. Vou buscar a minha namorada pra passarmos o fim-de-semana na nossa casa nas Caraíbas.”
Como é que acham que ele iria reagir?

quarta-feira, março 06, 1996

SOBRE VIOLÊNCIA GRATUITA, POLÍCIAS E AFINS (UM POUCO EXTENSO)

A nossa vida está reduzida a isto: um gajo levanta-se de manhã pra ir trabalhar, tá um dia de merda, o trabalho também é uma merda, os colegas são uma merda, o chefe é outra merda, tem-se uma merda de horário, uma merda de salário (quando se recebe), o comer no refeitório – um gajo nem tem dinheiro para uma refeição de merda num restaurante de merda – é uma merda intragável. Depois, um gajo sai tarde porque fica a acabar a merda de um relatório; quando finalmente sai, o trânsito tá uma merda. Ainda pior do que tinha sido de manhã. Para-se numa tasca de merda para beber a merda dum bagaço e quando se chega a casa, a primeira coisa que aparece à frente é a merda da esposa a perguntar como é que correu o dia.
Depois dizem que há muita violência doméstica. Não há. Há é pouca violência pública.
Se houvesse mais pessoal à porrada em cada esquina, já ninguém faria tanto alarido porque o marido da dona Gertrudes deu-lhe um soco no nariz porque a apanhou na cama com o patrão. O salário é uma merda, mas calma lá!
Infelizmente, temos a polícia que não só não deixa o pessoal andar à porrada na rua, como ainda por cima leva o pessoal para a esquadra, dá-lhes umas arreadas valentes e não deixa ninguém ver.
Isto são os polícias maus, mas há também os bons.
Os polícias bons são aqueles que são educados, ajudam as pessoas. São aqueles que quando chegam a um banco que está a ser assaltado e vêem um gajo sair a correr lá de dentro com uma meia na cabeça, em vez de ficarem parados, vão atrás do gajo.
A primeira regra numa situação de assalto com possíveis reféns é tentar saber como é que a situação está lá dentro. E para isso nada melhor que perguntar ao gajo que saiu de lá – ele acabou de sair de lá, deve saber – em vez de espreitar pela janela e levar um tiro nos cornos.
O problema tá no gajo da meia que não quer parar. Dá até a impressão que está a fugir de qualquer coisa. Talvez tenha vergonha. Compreende-se.
Um gajo daquela idade, andar pela rua com uma meia na cabeça sem ser no Carnaval, deve ser mesmo muito feio.
Mas o polícia bom está sempre preparado para tudo e não desiste. É um lutador, é um atleta.
Infelizmente (ou felizmente) o policiamento não é visto como um desporto a sério. Por muito bom que um polícia seja, nunca ouvimos falar de transferências milionárias de sargentos duma esquadra para outra.
Quando um novo comandante da GNR assume funções numa determinada esquadra, não o vemos convocar um conferência de imprensa para dizer:
"Estou muito contente por estar aqui e prometo fazer o meu melhor para evitar que esta esquadra desça de divisão."

terça-feira, março 05, 1996

A PROPÓSITO DE INCÊNDIOS (UM POUCO FORA DE ÉPOCA E DAÍ TALVEZ NÃO)

No Verão, o que há muito são incêndios. Há algum tempo atrás li uma notícia, já não me lembro onde é que foi, que dizia “Governo proíbe que façam fogueiras nas florestas.”
Acho que era o que fazia falta. Agora assim os incendiários já não podem pegar fogo. Porque é proibido.
Só mesmo aqui...

CERVEJA VERDE (UM POUCO TARDIO, MAS ENFIM...)

Há cerca de um ano atrás apareceu uma nova cerveja no mercado. Talvez muita se tenha dito acerca dela, contudo achei por bem manifestar a minha opinião.
Uma nova cerveja apenas não seria nada de mais, por isso eles tiveram de pensar em algo que a diferenciasse das outras. E como é que fizeram isso? Alteraram o sabor.
Pela primeira vez, em Portugal pelo menos, temos uma cerveja... com sabor a limão.
Ora, não é o facto da cerveja saber a limão que me faz confusão; se bem que uma cerveja com sabor a tremoço ou caracol seria bem mais prático; e sim a publicidade feita a essa mesma cerveja.
Vi um cartaz que consistia no seguinte: tinha a garrafa com o nome do produto e o slogan por cima. O produto, para não fazer publicidade gratuita, vou apenas dizer que é uma variante chamada “green” de uma cerveja começada por “SU”, acabada em “OCK” e com as letras “PER B” no meio. E o slogan era algo do género, tinha o nome da cerveja e depois “...o céu na boca”.
E eu pensei. Pera lá! “Green” é verde. Eles tão a dizer que o céu é verde? O céu é azul não é verde.
Porque é que eles puseram aquilo assim? De início, pensei que talvez tivessem tido a ideia do slogan depois de terem os rótulos impressos. Talvez fosse por isso. De qualquer modo, acho bom ter ficado assim. Se em vez de “green” fosse “blue” acho que ficava um pouco bicha.
Não, também não podia ser por isso.
Então o quê?
E se em vez das cores, trocassem os locais? Tipo o céu é azul, o que é que é verde? A erva. “... a erva na boca”
Não dava uma boa imagem. Erva na boca. Das duas uma, ou o pessoal tá comê-la ou tá a fumá-la. Portanto, ou é drogado, ou é cavalo.
Porque não “red”? “O morango na boca”?
Não... O morango também não fica bem.
Realmente não percebo o que vai na cabeça de certos criativos.
Nem na minha, já agora.

segunda-feira, março 04, 1996

A ESPERANÇA

"A esperança é sempre a última a morrer."
Há quem diga isso e fique contente por dizer como se tivesse ajudado muito. Não percebo porquê. A sério que não percebo. Acho... estúpido, não sei. Estupidozinho para ser mais preciso.
Se a esperança morre em último lugar, isso quer dizer que eu vou morrer antes.
Será que sou o único a reparar nisso? É só isso que a expressão quer dizer. Mais nada.
Eu 'tou mal - por acaso até não (mas supondo que sim) - e alguém vem ter comigo e diz-me:
"Não te preocupes. A esperança é a última a morrer."
Em que é que isso me ajuda? Eu vou morrer primeiro.
Bela merda de ajuda!

domingo, março 03, 1996

ESTUPIDOZINHO

Porque é que os miúdos nas histórias se chamam sempre João? Aliás, nem sequer é João - é Joãozinho. Será que isto é alguma regra?
O "inho" é estúpido. Digo eu. Tipo o "estupidozinho". Para mim essa é a pior ofensa que alguém pode fazer.
Alguém ser estúpido, já é mau. Mas alguém que é "estupidozinho", é porque é tão estúpido, tão estúpido que nem consegue ser estúpido a sério.
É estúpido, eu sei.