segunda-feira, abril 21, 1997

A GRIPE DAS AVES E O PROBLEMA DA FOME NO MUNDO

Agora fala-se muito da gripe das aves. É a primeira grande ameaça do século XXI. A seguir ao DVD do Luís Represas, claro; ou como eu gosto de lhe chamar... Luís Construção-edificada-pelo-Homem-com-o-intuito-de-armezenar-água-para-a-produção-de-energia-eléctrica.
Digo-vos sinceramente, se ele passasse a usar um nome desses eu até o respeitava. Mesmo que não mudasse o penteado.
Desculpem se me desviei do tema. Estava a falar da gripe das aves. Estou preocupado. Por dois motivos.
Primeiro, se as galinhas ficarem constipadas, que canja é que nós vamos comer? Não se fala disso. É só: foi encontrada uma ave morta aqui, outra ali; mas elas estão mortas, não estão doentes!
Pior, se as galinhas ficarem constipadas, que canja é que ELAS vão comer?
A cura não me interessa. Da maneira que isto anda, já fazia falta uma pandemia há muito, muito tempo.
Preocupa-me é a canja.
Mas é só mesmo por curiosidade, porque eu até não gosto muito de canja. Eh pá, como, mas não é aquela cena que eu vá restaurante e peça. A canja é sopa de doente e eu quando não tou doente, não consigo comer aquilo tudo; enjoa-me e depois acontece o inevitável: deixo ficar no prato, o que parece mal.
Podemos ser crianças, podemos ser adultos, não se deve. É feio. Não se faz.
Em casa ou no restaurante, deixamos nem que sejam duas batatas no prato e os pais, ou a pessoa que está connosco, diz sempre:
"Se não querias comer tanto, porque é que pediste?"
"Tens mais olhos que barriga, é o que é."
Tanto quanto sei isto é verdade, a não ser em relação aos zarolhos que têm tantos olhos como barrigas. É preciso ser-se estúpido para se sentir mal com uma destas.
Depois o pai vem com a conversa do "Devias era viver em África, para saber como era."
Vêm sempre com o argumento da fome. Sempre. Até irrita.
"Fartura. O que tu tens é fartura."
Ouvimos isto sempre. Sempre! Nem que seja um mísero bocadito de carne que nem sabe que é carne agarrado ao osso, cheio de gordura!
No entanto – e é aqui que a gente vê como é que as coisas são -, as mesmas pessoas que são tão picuinhas em relação a uma migalha que fica por comer, vão a restaurante e basta estar um cabelo na comida, pedem logo pra trazer outro prato.
A culpa também é dos empregados. Às vezes quando se pede para trazer outro prato é apenas para trazer outro prato, não outra comida. Por isso é que a comida é cara.
É uma questão de higiene, dizem uns.
E por isso morre tanta gente à fome em África. Porque as embalagens de comida que recebem das organizações mundiais vêm com cabelos. Milhões e milhões de mortos por ano, tudo por causa dum cabelo na sopa.
Imagino um etíope, quase a morrer à fome, vai pra comer:
"Porra! Esta sopa tem um cabelo! Quando é que vem a próxima entrega? Daqui a um ano? OK, eu espero."
Já me têm vindo pratos com pestanas ou sobrancelhas, eu ponho de parte e continuo a comer. Não vou morrer por causa disso. Se o cozinheiro ou algum ajudante estiver a fazer quimioterapia é fácil de ver e quase de certeza não o iam pôr a trabalhar na cozinha. Acho eu... Mas as pessoas olham para essas sobrancelhas ou pestanas e pensam sempre que são pêlos púbicos.
Pensem um pouco. Se encontrarem um desses pêlos na salada não será mais provável ter sido porque quem estava a descascar a cebola, começou a lacrimejar e ao passar a mão pelos olhos, caiu uma pestana? Não é de propósito. Eles não têm um frasco com pêlos púbicos lá na cozinha para pôr na comida. A cozinha não é lugar de orgias. Pelo menos, não a toda hora. A não ser quando o restaurante tá vazio.
Aí o pessoal aproveita e faz doces à base de leite condensado. Que piada labrega! Eu sei. Mas é mesmo assim.
Se vocês ficam preocupados com pêlos púbicos na comida, só vos digo o seguinte: da próxima vez que forem ao restaurante e pedirem bacalhau com natas ou bifinhos com cogumelos, olhem bem para o molho antes de começarem a comer.

domingo, abril 20, 1997

"EU, PESSOALMENTE" E OUTRAS CENAS ESTÚPIDAS

Porque é que dizemos "eu, pessoalmente" quando estamos a falar de nós próprios? Será que o facto de se estar a falar na primeira pessoa não chega para se perceber que é uma opinião pessoal?
Não se diz "ele, pessoalmente" ou "tu, pessoalmente". O "pessoalmente" é sempre eu. E eu pessoalmente acho isto estúpido.
Querem ouvir uma frase realmente estúpida?
O contrário de qualquer coisa não é mais que o oposto do seu significado original.
Porque é que é estúpida? Porque não diz absolutamente nada. Nós temos a mania de dizermos coisas sem qualquer significado única e exclusivamente porque podemos. Somos racionais. Somos intelectualmente superiores aos demais, geneticamente parecidos com alguns.
Tenho em mente que a grande diferença entre o Homem e alguns animais é apenas a barreira da linguagem. A diferença genética entre humanos e chimpanzés é de 2%. Aliás, se os chimpanzés pudessem dizer que são chimpanzés, passariam a ser homens.

sábado, abril 19, 1997

ESTUPIDOZINHO PARTE 2

O infeliz que é nomeado "estupidozinho" é, para sua desgraça, um indivíduo tão "estúpido" que nem consegue ser um estúpido a sério.

Felizmente, para todos aqueles que se inserem na categoria de "estupidozinhos", existem certas normas que, caso sejam seguidas à regra, poderão, um dia (com sorte), possibilitar a promoção ao cargo de "estúpido" oficial. Aqueles que o conseguirem (se o conseguirem), poderão mais tarde ser promovidos ao cargo de zotes ou pusilânimes. A escolha é vossa. Mas, deixemo-nos de merdas e passemos às medidas propriamente ditas.

Artigo 1
O estúpido é estúpido todos os dias. De manhã à noite o estúpido tem que ser estúpido sempre.

Artigo 2
O estúpido é estúpido, não é parvo. Todo o estúpido que queira ser parvo será banido da ordem universal da estupidez.

Artigo 3
Uma vez estúpido sempre estúpido. Aquele que for estúpido, será sempre estúpido.

Artigo 4
Ser estúpido ou não ser. Qual é a questão? Um estúpido nunca põe em causa a sua estupidez. Ele sabe que é estúpido e mais nada.

Artigo 5
O estúpido é fiel a si próprio. Todo aquele que quebrar o juramento de ser estúpido todos os dias será rebaixado à categoria de estupidozinho.

sexta-feira, abril 18, 1997

ESTUPIDEZ TEMPORÁRIA

Ainda no tema da estupidez – temas estúpidos é coisa que não falta aqui – existe algo que os advogados de defesa gostam muito de invocar: a insanidade temporária.
"Meretíssimo, o meu cliente não estava em plena posse das suas faculdades mentais no momento do acto."
A bem da celeridade da justiça portuguesa penso que se pode simplificar isto através duma nova forma de apelação: a estupidez temporária.
Em vez daquela lengalenga das faculdades mentais, o advogado diria apenas:
"Meretíssimo, o meu cliente foi estúpido."
E o juiz depois pergunta:
"E agora, ainda é estúpido?"
"Agora já não, Meretíssimo."
E assim é absolvido.

quarta-feira, abril 16, 1997

OUTRAS ALTERNATIVAS NA VIDA

Às vezes perguntam-me o que é que eu faço na vida. Geralmente respondo nada, que é o que se responde nessas ocasiões.

Mas antes de não fazer nada, fiz outras coisas. Algumas boas, outras não tão boas.

A mais rentável foi ser traficante de mulheres. Só mulheres, drogas não é comigo.

E não é difícil traficar mulheres. É preciso ter atenção ao mercado e às estações do ano mas, fora isso, não é difícil.

Brasileiras no Inverno e eslavas no Verão. Não tem nada que saber.

Um conselho que me deram e que eu vou partilhar com quem estiver no ramo ou pensa entrar: nunca, mas mesmo nunca, a sério, encomendar mulheres do leste fora da época quente. Além de não ter quase saída nenhuma, fica depois no armazém empatado a ganhar pó.

Isto que eu tou a dizer, pode parecer chocante para alguns de vocês (para os outros admito que possa mesmo ser), mas é verdade. Eu próprio tenho dificuldades em acreditar. Mas, não há como o negar. Mulheres do leste só vendem no Verão.

Outra actividade à qual eu me tenho dedicado de vez em quando é o embalsamamento de animais. É chato porque como não tenho um carro ou uma moto para atropelar os animais, tenho de utilizar um bastão e agredi-los na cabeça. Isto pode parecer uma piada de mau gosto, mas garanto que eles têm uma morte rápida. E os que não têm é apenas por uma questão de segundos. Além disso, mesmo que tivesse um carro ou uma moto, como condutor sou uma porcaria e o mais certo era eles acabarem feitos em merda.
Outra coisa que descobri. Pensavam que vinham cá e que não aprendiam nada? E não são só coisas más. Descobri que atirar senhoras idosas, as chamada velhinhas, dum 10º andar pode causar algumas complicações no trânsito.
Estamos sempre a aprender, não é verdade?