segunda-feira, maio 19, 1997

POST CONFUSO PARA A MINHA MENINA DOS CTT (2)

Não conheço as regras da estrada. Ou melhor, conheço uma. Sei que a polícia vai passar a andar à caça de condutores que fumem drogas leves enquanto conduzem. Pessoal, não se preocupem: eles não andam atrás da malta que fuma charros, só daqueles que fumam charros enquanto conduzem.

Os charros tudo bem. "Ah, a malta é jovem e tal, deixem-nos divertirem-se." Eles querem é condutores.

Por sinal, ao mesmo tempo que aumenta o consumo de drogas leves entre os adultos, aumenta também o número de pais que compram Cds do 50Cent e se dizem "cool". Até aos trinta e tal disfarça, a partir dos cinquenta já é mais complicado.

"Senhor Silva, o senhor já tem 70 anos. Não acha que é altura de deixar fumar charros com essa malta de dezoito anos?"

E o senhor Silva,

"Estou a gozar a reforma!"

Quem também não consegue disfarçar são os condutores que fumam charros. É fácil. Vê-se à distância. E porquê? Porque vão a preparar a cena enquanto conduzem.

Por isso é que há acidentes. Não é por falta de prevenção. Pensem nas reportagens que se vêem todos os anos por volta do Natal e do Verão. "Aumentou o número de mortos na estrada". O número de mortos na estrada está sempre a aumentar.

Há uma ligação estranha entre o número de acidentes de viação e o número de mortos na estrada. Os acidentes aumentam ao mesmo tempo que os mortos. E eu pergunto: não seria mais fácil, não será que os acidentes deixavam de acontecer se não houvessem mortos na estrada? Pensem bem. Eu falo por mim que não sou condutor. Posso estar aqui a dizer uma grande asneira, mas pronto...

Vou fazer uma confissão. Eu não sei pôr mudanças. Não sei. Eu sou aquele gajo que quando vai a um salão de jogos só joga ao Daytona se estiver alguém comigo que saiba pôr mudanças. Se por acaso for sozinho, pergunto a todos os que estiverem lá.

"Sabes pôr mudanças?"

"Sei."

"Então 'bora, vais-me ajudar."

"Agora tou a jogar."

"Não me interessa! 'Bora!"

Mas dizia eu, mortos na estrada / acidentes de viação. Eu não quero, mas vejo-me obrigado a pensar que se não fossem os mortos na estrada seria bem mais fácil conduzir. Vejam bem, vai um tipo a conduzir, aparece um morto, desvia-se; aparece outro, desvia-se. Às tantas, aparece um em cada faixa e o gajo espeta-se contra os rails.

Já para não falar das campanhas de prevenção rodoviária.

No que é que eles se baseiam?

Nos mortos.

O que é que os faz pensar em novas políticas de combate à sinistralidade rodoviária?

Os mortos.

As campanhas são feitas em função do número de mortos na estrada. Porque é que não resultam? Por uma razão simples. Quando se faz algo em função de alguém, faz-se para ajudar, para dar vantagem, para favorecer essa pessoa.

"Fiz isto a pensar em ti."

Foi feito a pensar naquela pessoa.

E eu pergunto: que raio de vantagem é que os mortos precisam? Não seria melhor fazer as coisas de modo a... – será assim tão bizarro? – dar uma vantagem aos vivos? Não é preciso ser muita, pode ser pouca, mas eles é que precisam de ajuda; principalmente os que fumam charros enquanto conduzem.

Aliás, o que eles precisam é de disciplina! Porrada neles!

Só que acabou o serviço militar obrigatório. É pena. Tiveram que inventar o Dia Nacional das Forças Armadas. Ora, o que é que é isto? Os jovens nos 18, 20 anos, são convocados para comparecer em determinado Quartel nesse dia.

É pra sensibilizar os jovens prá tropa! Prá tropa!

No ano passado, ou há dois anos, não tenho a certeza, houve uma adesão de 94%. Mais ou menos.

Isto é estranho. Dantes, quando era obrigatório, ninguém queria ir. Agora que não são obrigados, é que toda a gente quer. O que é que se passa aqui? É que, quem não apareceu lá, vai receber depois uma cartinha em casa para pagar uma multa de duzentos e cinquenta euros. Cinquenta contos. Que é quase o dinheiro que um gajo faz numa recruta de ano e meio.

Ainda por cima têm a lata de vir para a televisão dizer que os jovens estão cada vez mais interessados nos assuntos militares. Pudera! Se a alternativa for pagar duzentos e cinquenta euros, até eu ia.

É um dia estúpido. Eu acho.

POST CONFUSO PARA A MINHA MENINA DOS CTT (1)

Não há nada melhor que uma boa guerra religiosa para aprender o que é inteligência, tolerância e fé. Há uns anitos atrás tivemos as Cruzadas. Católicos contra muçulmanos! Tudo porque uns adoravam um sujeito que levou e calou e os outros um tipo que achava que era feio demais para poder ser representado.

E as diferenças entre os católicos e os muçulmanos não acabam aqui. Para os que estão indecisos entre uma ou outra religião, aqui vai uma pequena comparação. Os católicos podem consumir álcool, os muçulmanos permitem a poligamia. Sabem o que isso significa?

Os católicos é "até que a morte vos separe", o sagrado matrimónio, uma mulher; os muçulmanos têm direito a cinco. Cinco!

O que é estranho, porque os católicos é que têm a Santíssima Trindade. Eu pensava que teriam direito a três. Pelo menos.

E é aqui que entra a parte do pecado. Quem se porta bem, vai para o Céu. Os muçulmanos têm setenta virgens à espera; duvido que que os católicos tenham uma tasca no Céu.

Aliás, esta é uma das razões que me leva a pensar que talvez o Céu não seja tão bom quanto querem fazer parecer.

Ir para o Céu é mau. Olhem para Adão e Eva. Expulsos do Paraíso por causa duma maçã. Dizem que não fizeram de propósito. Será que não?

Vejam o caso de Jesus. Jesus teve uma vida imaculada, ausente de pecados, resistiu à tentação. A sua pureza levou-o para o Céu. Esteve lá três dias e bazou.

Foi dos poucos conhecidos que, indiscutivelmente, mereceu ir para o Céu e não ficou convencido com as condições que lhe eram oferecidas. Mas também, ele ia viver com o pai. Ser filho de Deus também não deve ser fácil. Não há privacidade nenhuma.

"Pai, importas-te de sair do meu quarto?"

"Ó filho, sabes bem que não posso."

O Inferno, por outro lado, deve ser bom. Pensem naqueles que fizeram merda e mais merda, curtiram que nem uns doidos, alguns roubaram, mataram, enganaram. Foram parar ao inferno.

Quantos é que voltaram para dizer que aquilo não presta?

E para os muçulmanos... setenta virgens? Uma é difícil, quanto mais setenta! Estão sempre à espera "da pessoa certa" São setenta vezes a ouvir aquela conversa do "Prometes que não me magoas?" ou "Gostas mesmo de mim?" Setenta para um. São 70 prendas de aniversário. Imaginem como será no Dia dos Namorados. Faço ideia se houver restaurantes no Céu.

"Era uma mesa para setenta e um."

"Para setenta e um não tenho. Só sessenta e nove. Há dois que ficam de fora."

Outra questão nesta cena das setenta virgens. Ninguém fala de idade, peso, altura ou sexo. Pessoalmente, acho que são dados importantes.

Setenta virgens não significa setenta virgens mulheres. Um gajo pode chegar lá todo convencido e de repente...

Porque isto do Céu; ir para o Céu, seja ele de que religião for, é um acto de compensação. Nós portamo-nos bem, porque estamos à espera de algo bom.

Pensem numa criança que se porta bem o ano inteiro para receber uma certa prenda no Natal e chega ao grande dia e recebe outra porcaria qualquer.

O pessoal, enquanto é vivo, não mata, não rouba, cumpre as regras, vai para o céu e tem:

Opção A, setenta virgens; opção B, ficar sem sexo, sentar-se numa nuvem e ver quem se porta mal cá em baixo. Passamos a ser chibos. E a denúncia é considerada pecado.

Isso não é o Céu, é o Inferno.

Eu chamo a isto publicidade enganosa.

Mas é esta a mensagem que tentam passar. Principalmente aquelas velhas beatas que me aparecem à frente sempre com a porcaria do Sentinela. Detesto isso.

Nada contra a religião, nada contra a revista, mas os fiéis... Custa muito tirar um curso de técnico de vendas? Eu acho que não.

E por enquanto são só essas. Eu quero ver se isto alastra a outros credos. Tipo, pessoal satânico. Aquilo não é só malta nova. Também há velhos lá. O pessoal que é marado para entrar lá, fica lá pra sempre; não se cura assim muito facilmente.

Portanto, eu tenho medo do dia em que me apareça uma velha à frente com uma t-shirt de Cradle a dizer:

"O sangue! O sangue!"

E novamente, cá temos o problema da técnica de venda.

E esta da roupa é outra. Eu visto-me de preto. Não sou satânico, não sou gótico, não sou nada disso. Mas quantas vezes é que não há um palhaço qualquer que se chega ao pé de mim e pergunta: "És satânico?" ou “És gótico?”

É sempre! No entanto, nunca vi ninguém a perguntar isso a uma dessas velhas que se vestem de preto. Porquê?

Sabem porque é que me visto de preto?

Porque não se nota tanto as manchas de sangue.

E se me vestisse de branco, será que as pessoas se chegariam ao pé de mim assim

"Doutor, não me estou a sentir bem. Será que me podia passar qualquer coisa?"

Roupa é apenas roupa.

Eu sempre que vejo um gajo de calças pretas e camisa branca, não me aproximo dele e peço um café e um copo de água, só porque parece um empregado de café. Pode não ser. Roupa é apenas roupa.

quarta-feira, maio 07, 1997

O OVO REDONDO

SETE MULHERES E MEIA POR CADA HOMEM

Li uma estatística, há uns anos atrás e segundo essas estatísticas existem cerca de sete mulheres e meia por cada homem.
Eu contento–me só com as sete. Chamem–me o que quiserem, mas a ideia de ter sexo com uma mutilada não me agrada muito.
Mas que raio?! Será possível que existam tantas meias mulheres no mundo? Será que nascem já por metade ou são cortadas depois?
Fico com um arrepio na espinha só de pensar ao que elas têm de se sujeitar só para que as estatísticas batam certo.
O pessoal das estatísticas vai para as Maternidades e começa a contar.
“Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oi... Corta!”
E depois se alguém reclama, o que é altamente provável, há que apelar à lógica. E a lógica é: a criança acabou de nascer. Ponto um. Ponto dois. Os resultados já estão publicados. O que é que é mais importante?

OS MÉDICOS NÃO GOSTAM DE MIM

Os médicos não gostam de mim. Olham-me de lado. E eu acho que sei porquê. É que quando uma pessoa nasce, regra geral, o médico ou a pessoa que ajuda no parto dá sempre uma palmada. Dizem que faz bem. Mas faz bem a quem? Um gajo tá ali muito bem dentro da barriga da mãe e a primeira que recebe quando resolve sair é porrada? Bela merda de hospitalidade.
Ora, eu sabia da palmada antes de sair. Ouvi dizer. Foi por isso que, assim que saí, amandei-me logo de cabeça para o chão, antes que o médico tivesse tempo de fazer fosse o que fosse. Comecei a chorar que nem um desalmado, ia sofrendo um traumatismo craniano, mas felizmente tudo acabou bem. Não tive praticamente sequelas desse pequeno incidente e tenho tido uma vida mais ou menos normal. O médico, esse é que não achou graça nenhuma àquilo, ficou todo lixado comigo. É por isso que quando vou a uma consulta ou fazer um exame, sempre que passa um médico por mim, olha-me sempre de lado. Às vezes vão dois a conversar e eu até chego a ouvir.
“Foi aquele. Amandou-se de cabeça.”
“Ah! Sacana! Havia de ser comigo...”

CASAS DE CHUTO EM PORTUGAL

Há uns anos atrás lembro-me que o Governo queria criar as chamadas Casas de Chuto para os senhores toxicodependentes irem para lá tomar o seu charrinho e não só. A oposição, por seu lado, não achou muita piada a isso. E percebe-se porquê.
Aquilo era suposto ser um serviço público. Ora, se tomarmos em conta como costuma funcionar o serviço público em Portugal, tipo Repartição das Finanças, o que nós teríamos, caso a ideia tivesse ido pra frente seria algo do género:
Um balcão de atendimento com três guichets e uma única fila. E a pessoa, neste caso o toxicodependente, quando fosse a sua vez, chegava junto do balcão e dizia:
“Orienta aí um night bacano!”
“Tirou a senha?”
O gajo entrega a senha.
“Isto é uma senha azul. Para consumir drogas leves, tem de ser uma senha castanha.”
“Eh man... vá lá...”
“Lamento muito mas a senha azul é apenas para ácidos.”
“Hein vá lá... eu tou a ressacar...”