Os médicos não gostam de mim. Olham-me de lado. E eu acho que sei porquê. É que quando uma pessoa nasce, regra geral, o médico ou a pessoa que ajuda no parto dá sempre uma palmada. Dizem que faz bem. Mas faz bem a quem? Um gajo tá ali muito bem dentro da barriga da mãe e a primeira que recebe quando resolve sair é porrada? Bela merda de hospitalidade.
Ora, eu sabia da palmada antes de sair. Ouvi dizer. Foi por isso que, assim que saí, amandei-me logo de cabeça para o chão, antes que o médico tivesse tempo de fazer fosse o que fosse. Comecei a chorar que nem um desalmado, ia sofrendo um traumatismo craniano, mas felizmente tudo acabou bem. Não tive praticamente sequelas desse pequeno incidente e tenho tido uma vida mais ou menos normal. O médico, esse é que não achou graça nenhuma àquilo, ficou todo lixado comigo. É por isso que quando vou a uma consulta ou fazer um exame, sempre que passa um médico por mim, olha-me sempre de lado. Às vezes vão dois a conversar e eu até chego a ouvir.
“Foi aquele. Amandou-se de cabeça.”
“Ah! Sacana! Havia de ser comigo...”
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