segunda-feira, maio 19, 1997

POST CONFUSO PARA A MINHA MENINA DOS CTT (1)

Não há nada melhor que uma boa guerra religiosa para aprender o que é inteligência, tolerância e fé. Há uns anitos atrás tivemos as Cruzadas. Católicos contra muçulmanos! Tudo porque uns adoravam um sujeito que levou e calou e os outros um tipo que achava que era feio demais para poder ser representado.

E as diferenças entre os católicos e os muçulmanos não acabam aqui. Para os que estão indecisos entre uma ou outra religião, aqui vai uma pequena comparação. Os católicos podem consumir álcool, os muçulmanos permitem a poligamia. Sabem o que isso significa?

Os católicos é "até que a morte vos separe", o sagrado matrimónio, uma mulher; os muçulmanos têm direito a cinco. Cinco!

O que é estranho, porque os católicos é que têm a Santíssima Trindade. Eu pensava que teriam direito a três. Pelo menos.

E é aqui que entra a parte do pecado. Quem se porta bem, vai para o Céu. Os muçulmanos têm setenta virgens à espera; duvido que que os católicos tenham uma tasca no Céu.

Aliás, esta é uma das razões que me leva a pensar que talvez o Céu não seja tão bom quanto querem fazer parecer.

Ir para o Céu é mau. Olhem para Adão e Eva. Expulsos do Paraíso por causa duma maçã. Dizem que não fizeram de propósito. Será que não?

Vejam o caso de Jesus. Jesus teve uma vida imaculada, ausente de pecados, resistiu à tentação. A sua pureza levou-o para o Céu. Esteve lá três dias e bazou.

Foi dos poucos conhecidos que, indiscutivelmente, mereceu ir para o Céu e não ficou convencido com as condições que lhe eram oferecidas. Mas também, ele ia viver com o pai. Ser filho de Deus também não deve ser fácil. Não há privacidade nenhuma.

"Pai, importas-te de sair do meu quarto?"

"Ó filho, sabes bem que não posso."

O Inferno, por outro lado, deve ser bom. Pensem naqueles que fizeram merda e mais merda, curtiram que nem uns doidos, alguns roubaram, mataram, enganaram. Foram parar ao inferno.

Quantos é que voltaram para dizer que aquilo não presta?

E para os muçulmanos... setenta virgens? Uma é difícil, quanto mais setenta! Estão sempre à espera "da pessoa certa" São setenta vezes a ouvir aquela conversa do "Prometes que não me magoas?" ou "Gostas mesmo de mim?" Setenta para um. São 70 prendas de aniversário. Imaginem como será no Dia dos Namorados. Faço ideia se houver restaurantes no Céu.

"Era uma mesa para setenta e um."

"Para setenta e um não tenho. Só sessenta e nove. Há dois que ficam de fora."

Outra questão nesta cena das setenta virgens. Ninguém fala de idade, peso, altura ou sexo. Pessoalmente, acho que são dados importantes.

Setenta virgens não significa setenta virgens mulheres. Um gajo pode chegar lá todo convencido e de repente...

Porque isto do Céu; ir para o Céu, seja ele de que religião for, é um acto de compensação. Nós portamo-nos bem, porque estamos à espera de algo bom.

Pensem numa criança que se porta bem o ano inteiro para receber uma certa prenda no Natal e chega ao grande dia e recebe outra porcaria qualquer.

O pessoal, enquanto é vivo, não mata, não rouba, cumpre as regras, vai para o céu e tem:

Opção A, setenta virgens; opção B, ficar sem sexo, sentar-se numa nuvem e ver quem se porta mal cá em baixo. Passamos a ser chibos. E a denúncia é considerada pecado.

Isso não é o Céu, é o Inferno.

Eu chamo a isto publicidade enganosa.

Mas é esta a mensagem que tentam passar. Principalmente aquelas velhas beatas que me aparecem à frente sempre com a porcaria do Sentinela. Detesto isso.

Nada contra a religião, nada contra a revista, mas os fiéis... Custa muito tirar um curso de técnico de vendas? Eu acho que não.

E por enquanto são só essas. Eu quero ver se isto alastra a outros credos. Tipo, pessoal satânico. Aquilo não é só malta nova. Também há velhos lá. O pessoal que é marado para entrar lá, fica lá pra sempre; não se cura assim muito facilmente.

Portanto, eu tenho medo do dia em que me apareça uma velha à frente com uma t-shirt de Cradle a dizer:

"O sangue! O sangue!"

E novamente, cá temos o problema da técnica de venda.

E esta da roupa é outra. Eu visto-me de preto. Não sou satânico, não sou gótico, não sou nada disso. Mas quantas vezes é que não há um palhaço qualquer que se chega ao pé de mim e pergunta: "És satânico?" ou “És gótico?”

É sempre! No entanto, nunca vi ninguém a perguntar isso a uma dessas velhas que se vestem de preto. Porquê?

Sabem porque é que me visto de preto?

Porque não se nota tanto as manchas de sangue.

E se me vestisse de branco, será que as pessoas se chegariam ao pé de mim assim

"Doutor, não me estou a sentir bem. Será que me podia passar qualquer coisa?"

Roupa é apenas roupa.

Eu sempre que vejo um gajo de calças pretas e camisa branca, não me aproximo dele e peço um café e um copo de água, só porque parece um empregado de café. Pode não ser. Roupa é apenas roupa.

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