Os charros tudo bem. "Ah, a malta é jovem e tal, deixem-nos divertirem-se." Eles querem é condutores.
Por sinal, ao mesmo tempo que aumenta o consumo de drogas leves entre os adultos, aumenta também o número de pais que compram Cds do 50Cent e se dizem "cool". Até aos trinta e tal disfarça, a partir dos cinquenta já é mais complicado.
"Senhor Silva, o senhor já tem 70 anos. Não acha que é altura de deixar fumar charros com essa malta de dezoito anos?"
E o senhor Silva,
"Estou a gozar a reforma!"
Quem também não consegue disfarçar são os condutores que fumam charros. É fácil. Vê-se à distância. E porquê? Porque vão a preparar a cena enquanto conduzem.
Por isso é que há acidentes. Não é por falta de prevenção. Pensem nas reportagens que se vêem todos os anos por volta do Natal e do Verão. "Aumentou o número de mortos na estrada". O número de mortos na estrada está sempre a aumentar.
Há uma ligação estranha entre o número de acidentes de viação e o número de mortos na estrada. Os acidentes aumentam ao mesmo tempo que os mortos. E eu pergunto: não seria mais fácil, não será que os acidentes deixavam de acontecer se não houvessem mortos na estrada? Pensem bem. Eu falo por mim que não sou condutor. Posso estar aqui a dizer uma grande asneira, mas pronto...
Vou fazer uma confissão. Eu não sei pôr mudanças. Não sei. Eu sou aquele gajo que quando vai a um salão de jogos só joga ao Daytona se estiver alguém comigo que saiba pôr mudanças. Se por acaso for sozinho, pergunto a todos os que estiverem lá.
"Sabes pôr mudanças?"
"Sei."
"Então 'bora, vais-me ajudar."
"Agora tou a jogar."
"Não me interessa! 'Bora!"
Mas dizia eu, mortos na estrada / acidentes de viação. Eu não quero, mas vejo-me obrigado a pensar que se não fossem os mortos na estrada seria bem mais fácil conduzir. Vejam bem, vai um tipo a conduzir, aparece um morto, desvia-se; aparece outro, desvia-se. Às tantas, aparece um em cada faixa e o gajo espeta-se contra os rails.
Já para não falar das campanhas de prevenção rodoviária.
No que é que eles se baseiam?
Nos mortos.
O que é que os faz pensar em novas políticas de combate à sinistralidade rodoviária?
Os mortos.
As campanhas são feitas em função do número de mortos na estrada. Porque é que não resultam? Por uma razão simples. Quando se faz algo em função de alguém, faz-se para ajudar, para dar vantagem, para favorecer essa pessoa.
"Fiz isto a pensar em ti."
Foi feito a pensar naquela pessoa.
E eu pergunto: que raio de vantagem é que os mortos precisam? Não seria melhor fazer as coisas de modo a... – será assim tão bizarro? – dar uma vantagem aos vivos? Não é preciso ser muita, pode ser pouca, mas eles é que precisam de ajuda; principalmente os que fumam charros enquanto conduzem.
Aliás, o que eles precisam é de disciplina! Porrada neles!
Só que acabou o serviço militar obrigatório. É pena. Tiveram que inventar o Dia Nacional das Forças Armadas. Ora, o que é que é isto? Os jovens nos 18, 20 anos, são convocados para comparecer em determinado Quartel nesse dia.
É pra sensibilizar os jovens prá tropa! Prá tropa!
No ano passado, ou há dois anos, não tenho a certeza, houve uma adesão de 94%. Mais ou menos.
Isto é estranho. Dantes, quando era obrigatório, ninguém queria ir. Agora que não são obrigados, é que toda a gente quer. O que é que se passa aqui? É que, quem não apareceu lá, vai receber depois uma cartinha em casa para pagar uma multa de duzentos e cinquenta euros. Cinquenta contos. Que é quase o dinheiro que um gajo faz numa recruta de ano e meio.
Ainda por cima têm a lata de vir para a televisão dizer que os jovens estão cada vez mais interessados nos assuntos militares. Pudera! Se a alternativa for pagar duzentos e cinquenta euros, até eu ia.
É um dia estúpido. Eu acho.