domingo, outubro 26, 1997

TENTATIVA DE LANÇAR POLÉMICA

Já vos dei oportunidades mais que suficientes para se manifestarem com mais fervor. Não ligaram. Agora o azar é vosso. Sinceramente, lamento ter tido que chegar a este ponto.


E ainda no primeiro dia, Jesus disse para alguém que passava:
"Tenho comichão nas orelhas."





"Só é pena é o dinheiro que gasto em lâmpadas."




"Ai que ele 'inda cai!"




"Já escolheu o seu Salvador?"
"Sim, quero aquele da fraldinha branca. É o mais lavadinho."

quinta-feira, outubro 02, 1997

MENSAGEM PRIVADA

A todos aqueles que visitam este blogue regularmente e insistem em não fazer comentários: comecem a fazer comentários ou vão visitar o blogue doutro gajo qualquer que não se importe de ter visitas mudas em casa. Se calhar gostam de receber chamadas de pessoas que depois vai-se a ver e não falam nada e vocês ficam ali à toa "Tou? Tou? Tá lá?" E no outro lado está um maluco qualquer ou alguém que só quer ouvir vocês respirarem, tipo assim um maluco. Ou então têm vergonha de escrever. Ou não sabem escrever. Das duas uma. Ou não querem, ou não sabem. Eu percebo smsês. Comentem senão eu zango-me a sério.





P.S. Ou foste inteligente o suficiente para descobrir o que estava aqui escrito ou então fizeste CTRL+T ou CTRL+A ou foste ao menu EDITAR e clicaste em SELECCIONAR TUDO. De qualquer modo, se conseguiste tornar este texto visível, não te deve custar nada fazer um comentário. Ou deve?

SKETCH 6: SIBS

CENA 1: INT / BANCO

Homem entra no banco e dirige-se ao Multibanco. Faz um levantamento, conta as notas – algo está errado.

Homem pega no talão e dirige-se à zona de atendimento; fala com o primeiro empregado que apanha disponível

HOMEM
Olhe, faz favor.

EMPREGADO #1
Só um momento que agora não o posso atender.

HOMEM
Não pode?

EMPREGADO#1
Não me apetece.

HOMEM
Ah bom! Então e a quem é que lhe apetece?

EMPREGADO #1
(chamando colega)
Ó Armindo! Vê lá aqui o senhor.

Armindo aproxima-se, olha o homem de alto a baixo e afasta-se.

HOMEM
Isto já começa a ser demais!

EMPREGADO #1
Tem razão. Peço desculpa.
Bom dia, diga faz favor.

HOMEM
É assim...

EMPREGADO #1
Outro...

HOMEM
Fui agora mesmo ali à máquina fazer um levantamento de vinte euros e a máquina só me deu quinze.
Como pode ver tenho as notas e o talão mesmo aqui à vista.

ESMPREGADO#1
Estou a ver. Nesse caso só há uma coisa a fazer. Temos de preencher os formulários de notificação de anomalia registada e enviar tudo para a SIBS. Eles é que tratam de tudo.
Só um momento que eu vou buscar os papéis.

Empregado #1 levanta-se, vai ao cofre e tira de lá um dossier enorme. Trá-lo para junto da sua secretária e começa a preencher as centenas de impressos que o dossier contém, enquanto questiona o homem.

EMPREGADO #1
Portanto, foi vinte euros que requisitou?

HOMEM
Exacto.

EMPREGADO #1
E só saíram quinze. Ora isso dá uma diferença de....
(fazendo contas com os dedos várias vezes)
Cinco? É cinco, não é?

HOMEM
(irritado)
É cinco, é.

EMPREGADO #1
Prefere carne ou peixe?

HOMEM
(inseguro)
Carne.

EMPREGADO #1
Se tivesse de escolher entre ser sodomizado ou--

HOMEM
Calminha aí! Mas que raio de perguntas vêm a ser essas?

EMPREGADO #1
Oiça, eu não faço os formulários, só os preencho.

HOMEM
Mas já viu o tamanho disso? Assim nunca mais saímos daqui!

EMPREGADO #1
E isto é são só os nexos. Ainda falta a parte grande.

HOMEM
E não há maneira de acelerar isso? É que eu estou com um bocado de pressa.

EMPREGADO #1
Ai agora tá com pressa? Ouça, ouça. Eu estou aqui desde as sete e meia da manhã, há? Se está com pressa, tivesse vindo mais cedo, percebeu?

HOMEM
Não estou a gostar nada desse seu tom de vez.

EMPREGADO #1
(mudando para um tom esganiçado)
E assim?

HOMEM
Assim está melhor.

EMPREGADO #1
(tom normal)
Onde é que eu ia?
(tom esganiçado)
Deu-lhe a pressa agora, foi? Tem de ir apanhar a caminete, é?

HOMEM
É camioneta que se diz.

EMPREGADO #1
(tom esganiçado)
Desculpe, senhor professor.

HOMEM
(visivelmente irritado)
Não há forma de resolver isto de forma mais rápida?

EMPREGADO #1
Ah! Agora quem é que não sabe construir frases, hã? Assim é que se apanham!

HOMEM
Há ou não há?

EMPREGADO #1
Haver, há. Só que é cobrável.

HOMEM
Eu não me importo de pagar. Quero é despachar-me.

EMPREGADO #1
Muito bem.

O empregado #1 abre a gaveta, tira um cofre pequeno, abre-o e tira uma nota de cinco euros.

HOMEM
Quanto é?

EMPREGADO #1
Sete euros, por favor.

HOMEM
(entrega-lhe duas notas de cinco)
Aqui tem.

EMPREGADO #1
(procura troco no cofre)
Hã... Por acaso não tem destrocado? Só tenho notas.

HOMEM
Deixe estar. Fique com o troco.

Apertam as mãos.

EMPREGADO #1
Obrigado.

HOMEM
Obrigado, eu.

O homem levanta-se e sai.

SKETCH 5: ITEM DESCONHECIDO

CENA 1: INT / HIPERMERCADO. DIA

Casal percorre diversos corredores com um carrinho de compras. Um bebé de um ano sensivelmente viaja no espaço próprio para as crianças.

O casal chega à caixa e começa a pôr os artigos no tapete. O último artigo a ser colocado é o bebé.

O empregado começa a registar os produtos.

EMPREGADO
Boa tarde.

PAI
Boa tarde.

MÃE
Boa tarde.

O pai repara no preço do bebé. 70€

PAI
Oiça lá. Isso na prateleira ‘tava marcado a 50.

EMPREGADO
Sim, mas isso referente a uma promoção que acabou ontem.

PAI
Então se acabou ontem, tivessem mudado os preços.

MÃE
Querido, não comeces já com as tuas coisas

PAI
Quais minhas coisas? ‘Tava marcado 50. É o que eu vou pagar.

EMPREGADO
Desculpe interromper a conversa, mas o melhor que há a fazer é ligar para o meu chefe e explicar-lhe a situação.

PAI
Não é preciso ligar. Já começa a ser hábito de cada vez que venho aqui. Da última vez foi com fiambre.

EMPREGADO
Pode pagar o bebé a prestações se assim o desejar.

PAI
Eu nem queria levar isso. A ideia foi dela.

MÃE
Eu já te disse que pagava, não já?

PAI
Não tem a ver com o dinheiro. Só não percebo é pra quê. Não te chegavam já as plantas. È que depois já sei como é que é. Quando for pra ir à rua, vai sobrar aqui pró je.

MÃE
Não sejas parvo.

EMPREGADO
Nesse caso, como é que fazemos? Vai ou fica?

PAI
(olha para a mulher)
Tu é que sabes.

MÃE
(irritada)
Fica.

O empregado finaliza a conta.

EMPREGADO
São 27 Euros e 18 cêntimos, se faz favor.

SKETCH 4: ENTREVISTA DE EMPREGO

CeNA 1: INT / CENTRO DE EMPREGO. DIA

Homem é atendido por funcionária. A funcionária tecla no computador ocasionalmente.

FUNCIONÁRIA
Portanto, está desempregado há um mês e veio aqui para tratar do subsídio de desemprego.

HOMEM
Eu acabei de lhe dizer isso agora mesmo. Porque é que está a repetir?

FUNCIONÁRIA
O sketch só começou a ser transmitido agora.

HOMEM
Ah... Desculpe.

FUNCIONÁRIA
Muito bem. Tem a declaraçãozinha aí consigo?

O homem tira papel da carteira e entrega-o à funcionária.

HOMEM
(apontando para zona no canto inferior direito da folha)
Assine aqui, por favor.

A funcionária assina e devolve o papel ao homem. O homem parece ver se está tudo em ordem.

HOMEM
Bom, penso que está tudo.
Qualquer coisa, entraremos em contacto consigo.

O homem aperta a mão à funcionária. A funcionária levanta-se e vai-se embora.

HOMEM
Próximo!

SKETCH 3: O HOMEM QUE INVENTOU A MORTE

CENA 1: INT / ESTÚDIO

Entrevistador e convidado sentados frente a frente.

ENTREVISTADOR
Boa noite. Tenho comigo em estúdio o senhor Josevaldo Nunes que diz...
(consulta papéis)
... ter inventado a morte.
(incrédulo, para Josevaldo)
Está a brincar, não está?

JOSEVALDO
Nada disso. Fui eu que inventei a morte.
(pensa)
Aí há uns cinquenta, sessenta anos.

ENTREVISTADOR
Senhor Josevaldo, eu estou a olhar para si e não lhe dou sequer trinta, quanto mais cinquenta.

JOSEVALDO
É da luz. E da maquilhagem. Fazem-me parecer mais novo.

ENTREVISTADOR
Estou a ver. Diz, portanto, que inventou a morte há cinquenta anos.

JOSEVALDO
Aproximadamente.

ENTREVISTADOR
Mas a morte existe há milhões de anos. O que é que tem a dizer em relação a isso?

JOSEVALDO
É um erro comum. Eu explico. Antigamente não havia morte. As pessoas chamavam morte a um outro fenómeno conhecido por “descanso eterno”.

ENTREVISTADOR
Isso é um eufemismo para a morte.

JOSEVALDO
Um eufemismo não digo que seja, mas é uma forma suave de dar a entender que alguém não está mais entre nós.

ENTREVISTADOR
Estou com dificuldade em acreditar em si. Se o que me está a dizer é verdade, você faz dinheiro à custa da morte de outros seres. Não se sente mal por isso?

JOSEVALDO
Um agente funerário também ganha dinheiro com a morte de outros seres. Assim como o coveiro.

ENTREVISTADOR
Isso é diferente. No seu caso, trata-se de algo que você diz ter criado. O agente funerário e o coveiro não criaram a morte.

JOSEVALDO
Mas servem-se dela.

ENTREVISTADOR
Mas não a criaram e você criou. Não se sente mal por isso?

JOSEVALDO
Mas porque é que me havia de sentir? Também há quem tenha inventado a vida, faça tanto dinheiro quanto eu e não oiço ninguém queixar-se.

ENTREVISTADOR
(abana a cabeça)
“Há quem tenha inventado a vida”... Senhor Josevaldo, eu vou ser directo consigo e perguntar-lhe: Você por acaso é um tipo falhado que pensou na ideia mais disparatada só para aparecer na televisão?

JOSEVALDO
Sim.

ENTREVISTADOR
É sempre o mesmo em todos os programas. Já começo a ficar farto.
(para a câmara)
É tudo por aqui. Voltamos para a semana.

SKETCH 2: O MANIQUEÍSTA

CENA 1: INT / ESTÚDIO

APRESENTADOR
Boa noite. O meu convidado de hoje é António Tavares, treinador do Desportivo de Sernancelhe. Senhor Tavares...

TAVARES
Mister.

APRESENTADOR
Perdão. Mister Tavares, o que diz do jogo de ontem?

TAVARES
Perdemos.

APRESENTADOR
Sim, mas o que é que acha que aconteceu concretamente?

TAVARES
Bom, eu utilizei uma táctica que pensava ser infalível. Infelizmente as coisas não correram bem e perdemos o jogo.

APRESENTADOR
Pelas suas palavras, o que está a dizer é que foram os piores em campo?

TAVARES
Sim. Penso que é que isso que estou a dizer.

APRESENTADOR
Então, nesse caso, os outros foram os melhores?

TAVARES
Não necessariamente.

APRESENTADOR
Como não? Se vocês foram maus, é óbvio que eles foram bons.

TAVARES
É a última vez que venho ao seu programa!

APRESENTADOR
Pronto. Já cá faltava...

TAVARES
Raio do homem que é a sempre a mesma coisa! Já da outra vez foi o mesmo!

APRESENTADOR
Está-se a referir àquela história do “é homem ou é mulher”, suponho. Em que é que ficamos, então? É homem?

TAVARES
Não.

APRESENTADOR
Então é mulher?

TAVARES
Sabe o que você é? É um maniqueísta. Você, com esse seu criticismo, quer estabelecer um indiscutível fundamentalismo epistemológico, abrindo para uma concepção da razão dessubstancializada. Pois fique sabendo que “o intelecto, como meio para a conservação do indivíduo, desenvolve as suas forças dominantes na dissimulação, pois este é o meio graças ao qual os indivíduos mais frios, os menos robustos, se conservam e aos quais está vedado lutar pela existência com o auxílio de chifres ou de dentes afiados das penas.

APRESENTADOR
Manuel Maria Carrilho e depois Nietzsche. Agora é filósofo?

TAVARES
Não.

APRESENTADOR
Está-me a dizer que não é filósofo.

TAVARES
Não foi isso que eu disse.

SKETCH 1: O TESTEMUNHO CERTO

CENA 1: INT / TRIBUNAL

Estamos a meio de um julgamento.

O JUIZ está dentro de uma cabina de som.

ADVOGADO DE ACUSAÇÃO
(para o RÉU)
Onde é estava às 23 horas do dia 26 de Setembro?

RÉU
Em casa.

Um alarme começa a tocar.

ADVOGADO DE ACUSAÇÃO
Certo! Parabéns! Meretíssimo, queira proferir o que é que o senhor Santos acabou de ganhar.

A voz do JUIZ ecoa por toda a sala.

JUIZ
O senhor Santos acabou de ganhar uma absolvição. Mas, segundo o artigo 23 do Código do Jogo, pode trocar a absolvição por um magnífico automóvel.

RÉU
Então quero o carro.

O ADVOGADO DE ACUSAÇÃO tira umas chaves do bolso e entrega-as ao RÉU.

O RÉU é levado para fora da sala por dois guardas.


CENA 2: INT / ESQUADRA. SALA DE INTERROGATÓRIOS

Um SUSPEITO é interrogado pela polícia.

POLÍCIA
Onde é que estava ontem à noite?

SUSPEITO
Estava em casa. Mas, se me deixar ir embora posso lhe dizer um sítio mais convincente amanhã.

POLÍCIA
Às nove horas, então?

SUSPEITO
Nove horas? Tão cedo?

POLÍCIA
Às dez então.

SUSPEITO
Não pode ser às onze?

POLÍCIA
Às onze não. É quando eu tenho o meu intervalo. Dez e meia.

SUSPEITO
Um quarto para as onze.

POLÍCIA
Um quarto para as onze. Não se atrase.

SUSPEITO
Não se preocupe.

O SUSPEITO levanta-se e vai-se embora.